História
Uma história para inspirar e encher Campinas de orgulho. Primeira mulher negra latino-americana a chegar ao cume do Everest, a montanha mais alta do mundo, a campineira Aretha Duarte enfrentou muitos desafios para chegar lá, entre eles, arrecadar recursos para o grandioso projeto que teve até arrecadação e venda de materiais reciclados.
Aretha Duarte, pioneira no topo do Everest
ㅤㅤNascida na periferia de Campinas, no Jardim Capivari, onde a família mora até hoje, Aretha conta que conheceu o montanhismo na faculdade de Educação Física, com 20 anos, quando um professor apresentou para os alunos uma operadora de montanhismo da cidade para que conhecessem uma das opções de trabalho. Ali ficou apaixonada pelo esporte e se aproximou da empresa, fazendo cursos de escalada em rocha, procurando sempre se aprimorar, quando em 2011 foi efetivada como funcionária da Grade6.Não tinha o interesse de escalar o Monte Everest até dezembro de 2019. “Achava que as pessoas queriam ir lá para se autopromover”, comenta a atleta, apesar de ter ido ao campo base, com mais de cinco mil metros de altitude, em 2013. Mas vendo as fotos em expedições de Carlos Santalena, sócio da Grade6, observou o Vale do Silêncio, que está a 6.400 metros de altitude. “Achei impressionante e me arrepiei. Naquele momento quis estar lá, assim surgiu a vontade de, um dia, voltar a escalar o Everest”, recorda.
ㅤㅤO sonho de chegar ao topo do mundo cresceu e se tornou uma motivação pessoal, um desafio. Ela conta que se preparou bastante fisicamente, e além disso, trabalhou muito para levantar os recursos financeiros necessários para a expedição. “Estava muito forte mentalmente, determinada e muito focada para vencer o desafio e realizar esse sonho. Os dez anos de experiência como montanhista também contaram para que não saísse do foco”, disse. Ela já escalou o Aconcágua, na Argentina (cinco vezes), o ponto mais alto fora do Himalaia, e o Monte Kilimanjaro, maior montanha da África, além Elbrus (Rússia), Monte Roraima (Venezuela), Pequeno Alpamayo (Bolívia) e Vulcões (Equador).Decidiu, então, juntar os recursos através da coleta de materiais recicláveis para financiar parte do projeto. “Eu retomei uma atividade que havia realizado esporadicamente quando queria comprar alguma coisa”, conta a atleta. Desta forma, comprou seu primeiro patins com 12 anos. Para a “Expedição Aretha no Everest”, passou 12 meses e meio trabalhando com coleta seletiva, projeto que ainda envolveu familiares e amigos. “Depois organizei bazares de roupas e móveis recebidos de doação”. Também participou do quadro “The Wall”, do programa do apresentador Luciano Huck, e, na reta final, conseguiu apoio de patrocinadores. “Com a reciclagem, consegui reunir cerca de R$ 110 mil, o que deu cerca de 35% do valor do projeto”, explica.
Chegada ao topo do Everest
ㅤㅤ“É uma montanha extremamente especial, no sentido de ter facilitadores, como a fixação de cordas ao longo de toda a montanha, isso facilita demais a ascensão”, explica Aretha. A experiência do Everest foi um grande desafio, a começar pelo tempo de expedição, de 60 dias. Segundo ela, são muitos fatores para lidar, além da altitude e a técnica. “Questões emocionais, físicas, relacionadas a estrutura, logística, lidar com outras pessoas, como os sherpas (guias locais do Nepal) ou colegas de trabalho. Uma série de adversidades, especialmente para uma mulher, com questões fisiológicas e bioquímicas envolvidas”, comentou. Por isso sua satisfação era enorme ao entender o quão preparada estava e o quão forte e resistente estava para um desafio como esse. “Jamais pensei em desistir”, revelou.
ㅤㅤAretha se emociona ao relembrar o ataque ao cume. Seu sherpa (guia local) demonstrava extremo cansaço e parecia não ter condições de chegar até o fim, quando uma conexão, que ela classifica como espiritual, ocorreu. “Nós deixamos o acampamento às 23h30 e estava muito frio. Ele esfregava as mãos e as pernas demonstrando estar sofrendo. E isso não significa que ele estivesse sem agasalho ou fosse mais fraco que eu. Pelo contrário. É muito mais forte. Porém, estava esgotado após o esforço dos últimos dias, já que são os sherpas que montam os acampamentos e garantem a estrutura. Ele chegou a me dizer que deveríamos voltar e eu pedi para seguir em frente sozinha. Ele não disse nada e continuou. Então, pensei: “que porcaria eu fiz”. Não queria realizar minha conquista às custas do sofrimento de outra pessoa. Me aproximei e dei um tapinha nas suas costas. Quando ele se virou, eu retirei os óculos de proteção e a máscara de oxigênio para dizer que eu queria muito chegar ao cume e estava me sentindo forte, mas que, se ele não estava bem, eu voltaria. Nesse momento, ele enxugou minhas lágrimas, recolocou minha máscara e óculos. Não disse nada, apenas se virou e seguimos a caminhada. Incrivelmente, a partir desse momento, ele não deu mais sinais de sentir frio e seguimos até o cume. Foi uma ligação espiritual e uma grande realização”, contou. Ela chegou ao topo do mundo às 10h24 do dia 23 de maio de 2021.
ㅤㅤComo montanhista, diz que é difícil explicar a sensação em chegar ao cume do Everest. “A sensação foi de: ‘Caraca, subi de nível’. O quão difícil é escalar essa montanha e de explicar tudo o que senti, a emoção é muito forte”, comenta a atleta, que pensava sobre sua realização e o quanto ela poderia servir de inspiração para as pessoas. “Se elas conseguirem pensar, imaginar e sonhar, se tudo aquilo fizer muito sentido para elas, terão condições de realizar. É isso que eu acredito. Especialmente para mulheres, todas podem. Espero ser a primeira de muitas”, destaca. “Todas podem chegar ao seu grande objetivo dando sempre o próximo passo, e depois o passo seguinte, com constância e regularidade”, argumenta.
ㅤㅤTendo uma história que é uma inspiração para todos aqueles que têm um sonho, para quem ainda não conseguiu colocar em prática seu projeto de vida, Aretha Duarte aconselha: “Sonhe. Acredite no seu sonho e trabalhe para realizar. Não importa o tamanho do sonho, é preciso investir na realização. É preciso dar um passo de cada vez. Eu queria o cume do Everest, mas comecei fazendo o que era possível para cada etapa”, incentiva.Conseguiu com um passo de cada vez, atingir quatro campos até o cume. Primeiro juntar as latinhas. Depois buscar mais apoio até chegar ao Nepal. Outra etapa é a subida na montanha.